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Me surpreendo a cada dia comigo mesma, a cada novo momento
uma nova descoberta, uma nova esperança, um novo sentimento. Eu, logo eu que
sempre me julguei donas dos meus sentimentos mas incapaz de dominá-los, sempre
fui conhecida como a chorona e sensível. É, as coisas mudaram, se é que um dia
foram como eu pensei que fossem. Descobri essa suposta mudança nas páginas de
Razão e Sensibilidade da Jane Austen.
Quando me debrucei
nas páginas dos primeiros capítulos já tinha em mente que Marianne Dashwood,
"a sensível" seria a "minha personagem" aquela que tem
muito de mim pra compartilhar comigo. E assim aconteceu exatamente como eu
esperava até que algo em Elinor Dashwood "a racional" me fez parar e
pensar um pouco em quem eu sou e no que eu mesma penso sobre mim. Todo o
sentimentalismo exagerado de Marianne não me pareceu mais parte da minha
identidade, nunca fui de deixar os meus sentimentos falarem mais alto, assim
como nunca deixei que eles transparecessem para os outros tão facilmente,
talvez os mais próximos percebam uma preocupaçãozinha ou outra, mas nada que me
faça me isolar do mundo, chorar descontrolavelmente o que apenas aumenta o
sofrimento e faz com que os outros sofram comigo. Exatamente como Marianne fez
quando descobre os sórdidos segredos do seu amado Willoughby.
Agora com
convicção afirmo que prefiro Elinor, ela que antes me parecia uma chata pro
estar sempre refreando os sentimentos da irmã, hoje se mostra muito mais....
eu! principalmente por ser sensata, pensar sempre na melhor coisa a fazer para
que as pessoas que ela ama não saiam prejudicadas, e estar disposta a ajudar
quem precisar da sua confiança e seus conselhos, mesmo que essa confiança toda
acabe em sua maior decepção.
Elinor me
surpreende mais ainda quando demostra um defeito que compartilhamos, sofrer
calada, tentar aguentar o mundo inteiro nas costas mas mesmo assim se manter
aparentemente intacta, assim ela o fez quando descobre o infortúnio que pairava
sobre seu amor por Edward Ferrars. Elinor sofre, mas mesmo assim não demonstra,
sofre o tempo todo sozinha sem poder compartilhar as suas dores com ninguém,
pois não queria causar sofrimento e preocupações em quem ela ama. Além disso em
meio a todo esse silencioso sofrimento a moça ainda tem que cuidar de Marianne,
partilhar do sofrimento da irmã e por vê-la sofrer aumentar o seu próprio
sofrimento.
Mas ao final de
tudo, quando todos estão a beira do final feliz e o ambiente seguro, Elinor,
assim como eu, deixa de lado o escudo da razão e se envolve nas doces vestes do
sentimento. Foi nesse sutil momento em que você vira a última página do livro e
começa a sentir saudade da sua companhia, eu descobri que por incrível que
pareça Razão e Sensibilidade sabia muito mais de mim do que eu julgava saber.
Talvez eu ainda teria muitas outras coisas a descobrir, ou minha descoberta
seja muito mais pessoal, seja fruto daqueles momentos entre você e o livro,
algo que ninguém vai poder sentir igual, algo que só você pode descobrir.
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