O
que eu mais admiro na Emma Woodhouse é a sua auto-estima. Vocês já
perceberam que ela não tem conflitos com relação à sua aparência,
aos seus modos, à sua vida? Ela é amada por todos - e sabe disso!
Nós sabemos que ela tem seu lado imaturo – tanto que, por causa
disso, acabou magoando algumas pessoas -, mas ela se ama e ponto
final.
Estou
relendo Emma,
no momento, e me divirto com ela. Uma passagem do livro, em especial,
me chamou a atenção: o que Emma fala sobre “ser solteira”. Ela
está conversando com Harriet, e essa diz que ser solteira “é
pavoroso”. Ao que Emma responde, cheia de confiança (e
preconceitos!):
- Não se preocupe, Harriet, não serei uma pobre solteirona; e é
a pobreza apenas o que torna o celibato lastimável para almas
generosas! Uma mulher solteira com uma renda muito baixa pode ser uma
solteirona ridícula e desagradável, motivo de escárnio para as
crianças; mas uma mulher solteira de boas posses é sempre
respeitável, e pode ser tão sensível e agradável como qualquer
outra pessoa.
Essa
fala da Emma é a prova do quão auto-confiante ela é, pois, em toda
a obra da Jane Austen, a solteirice é uma preocupação enorme,
principalmente para as mulheres. Lembremos de Charlotte Lucas, em
Orgulho e
Preconceito,
que, de forma totalmente pragmática, se casou com Mr. Collins, para
não ser um “estorvo” para os pais. Mas, se lembrarmos da Jane
Austen, ela própria viveu e morreu corajosamente solteira, mesmo não
sendo rica como Emma.
Na
minha fase de adolescência, lembro que não fui sempre como a Emma,
cheia de segurança por estar sozinha. Já tive fases em que me senti carente mal por não ter um namorado. Foi, então, que um livro
especial caiu em minhas mãos. É o CARTAS
A UM JOVEM POETA,
do escritor tcheco (na época, Império Austro-Húngaro) Ranier
Maria Rilke.
Nesse livro, Rilke dá conselhos a um rapaz que pretende ser
escritor. Mas os conselhos não ficam na esfera da escrita: Rilke
acaba dando conselhos para a vida! E um desses conselhos me tocou de
forma especial na época em que o li e me fez olhar com bons olhos
para a solteirice – e a tirar proveito disso. Vou compartilhar esse conselho com
você:
É
bom estar só, porque a solidão é difícil. Se uma coisa é
difícil, motivo mais forte para a desejar. Amar também é bom,
porque o amor é difícil. O amor de um ser humano por outro é
talvez a experiência mais difícil para cada um de nós, o mais
superior testemunho de nós próprios, a obra absoluta em face da
qual todas as outras são apenas ensaios. É por isso que os seres
bastante novos, novos em tudo, não sabem amar e precisam aprender.
Com todas as energias do seu ser, reunidas no coração que bate
inquieto e solitário, aprendem a amar. Toda a aprendizagem é uma
época de clausura. Assim, para o que ama, durante muito tempo e até
durante a vida, o amor é apenas solidão, solidão cada vez mais
intensa e mais profunda. O amor não consiste em uma criatura se
entregar, se unir a outra logo que se dá o encontro. (Que seria a
união de dois seres ainda vagos, inacabados, dependentes?) O amor é
a oportunidade única de sazonar, de adquirir forma, de nos tornarmos
um universo para o ser amado. É uma alta exigência, uma cupidez sem
limites, que faz daquele que ama um eleito solicitado pelos mais
largos horizontes. Quando o amor aparece, os novos apenas deveriam
enxergar nele o dever de trabalharem em si próprios. A faculdade de
nos perdermos noutro ser, de nos entregarmos a outro ser, todas as
formas de união, ainda não são para eles. Primeiro, é preciso
ajuntar muito tempo, acumular um tesouro.
Se você
está só e não é como Emma Woodhouse, espero que esse conselho
sirva como um bálsamo para você olhar para a sua solteirice com
bons olhos. E aproveitar, como diz Rilke, para “acumular um
tesouro” em si.
Até segunda-feira que vem!
Yours faithfully,
Rebeca Miscow
(do blog Desanuviando)
Obrigada pelo texto e pela dica, quero muito ler "Cartas a um jovem poeta" agora.... *-*
ResponderExcluirBoa semana. :*
O livro todo é maravilhoso, Viviane! Vale a pena!
ExcluirBjos,
Rebeca
É como eu disse uma vez a uma amiga: "Antes de querer amar alguém, você tem que aprender a se amar! Se você não sabe ser feliz sozinha, quem dirá na companhia de outra pessoa? Relacionamentos são complicados, nem sempre não sinônimos de felicidade eterna. Se a sua Felicidade depende dos outros, você nunca será feliz de verdade."
ResponderExcluirÉ a mais pura verdade.
ExcluirBjos,
Rebeca
Adorei o texto! No momento estou lendo "Persuasão", mas logo mais irei ler novamente Emma, esse texto me deixou com mais vontade ainda de reler =)
ResponderExcluirBeijos, Pri
vintagepri.blogspot.com
adorei o texto! parabéns! :p
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